A Mensagem sem Valor

“E eles lhes contaram o que lhes acontecera no caminho, e como deles fora conhecido no partir do pão.” Lc 24.35


Há quem diga que no passado as coisas eram bem melhores, concordo em partes, algumas coisas realmente eram. Lembro-me que na minha infância, havia um telefone público no meu bairro, naquela época quase ninguém tinha telefone em casa. Assim, o telefone público era uma espécie de telefone residencial comunitário. Funcionava bem, havia um procedimento padrão, muito melhor do que os operadores de telemarketing de hoje. Atender a ligação, perguntar com quem se deseja falar, e após isso ir à casa da pessoa chama-la, ah sim, há de se considerar que não ir chamar era prova de mau-caratismo, e atender ao telefone quando tocava era responsabilidade social, coisa séria, nós crianças por vezes éramos impedidos de fazê-lo. Afinal a mensagem podia ser importante, ninguém gastava dinheiro com uma ligação se a mensagem não fosse realmente importante.


Hoje quase todo mundo tem um telefone celular, isso permite facilidades impensáveis antes, afinal, se quero falar com alguém, ligo direto no celular. É apavorante sair de casa sem o celular. Como diria Martha Medeiros num de seus textos que meu pastor adora citar, “as coisas melhoraram pra pior”, é exatamente este o caso. Dia desses estava em minha casa, no mesmo bairro de minha infância, quando questionado por um carteiro sobre onde morava uma pessoa, “não faço a mínima ideia”, respondi, e meio que pra justificar a falha em não me relacionar com a vizinhança logo emendei minha fala, “é que não moro mais aqui”, outros poderiam dar uma desculpa diferente, “moro aqui há pouco tempo”, ou de repente nem se sentir na obrigação de conhecer, o que é bem pior.


As mensagens também perderam seu valor. Percebem como hoje se diz muita coisa que não muda quase nada? Tenho amigos que escrevem em sua pagina nas mídias sociais detalhadamente todos os seus atos do dia-a-dia. Com o passar do tempo, a gente aprendeu a não dizer aquilo que realmente importa apesar de termos todos os recursos necessários para isso.


O resultado da nossa “evolução”, é que aumentamos nossa comunicação, diminuímos os nossos relacionamentos e praticamente perdemos o valor da nossa mensagem. É exatamente assim que agimos na comunicação do evangelho de Cristo. Trocamos as exaustivas horas de caminhada acompanhada e descrição detalhada da palavra de Deus, como relata o texto acima citado, por cinco frases, as quais dizem ser o plano de Deus para salvação da humanidade. Substituímos as refeições compartilhadas no cair da noite, por compartilhamento de scraps e imagens. Desprezamos a alegria de perceber os olhos se abrindo mediante a face de Cristo, pelo contentamento com as mãos que se levantam e os olhos molhados em lágrimas emotivas aumentando as nossas estatísticas de convertidos.


Enfim não desejo voltar à época de quando era difícil a comunicação, desejo apenas uma oportunidade de caminhar ao lado das pessoas. Não quero que cessem os e-mails e recados, quero que a mensagem recebida tenha algum valor capaz de transformar o futuro da humanidade. 


Gustavo C. Martins

O silencio da cruz



O silêncio da cruz

Do horizonte o sol lança o brilho sobre sua face
Para além dela sua sombra toca o solo banhado em dor.
Ao redor percebem-se as marcas da guerra
Deixou transcrito na história sinônimo de amor.

Tua imagem, um desenho de dois traços
Símbolo que expressa morte, que revela vida.
Em seus extremos furos que não são obras de carpintaria
Não foi a mão que te produziu que saiu ferida.

Aprisionastes o único réu sem culpa alguma
Sepultou em seus braços a salvação da humanidade.
Sobre sua cabeça a lapide que despreza quem você é
Pois não é seu nome que lembrarão na eternidade.

Não quero em minha mente ver-te por um corpo encoberta
Quero a lembrança da esperança que guardas oh rude Cruz
Quero o teu silencio em minhas orações
Pois você não foi capaz de aniquilar meu salvador, Jesus.


Gustavo C. Martins

Saindo das Cavernas...


“...veio ao sepulcro; e era uma caverna, e tinha uma pedra posta sobre ela.” Jo 11.38


Vez por outra a vida da um nó, dá tudo errado, agente sai envergonhado, a vontade é de se enfiar num buraco, de fugir da presença de todo mundo. Esse tipo de comportamento é mais normal do que pensamos e acontece há milhares de anos. A Bíblia nos relata inúmeras vezes em que homens grandes e poderosos não só pensaram assim, como assim fizeram. O profeta Elias após receber ameaça de morte da rainha Jezabel corre para o deserto e se esconde numa caverna (I Rs 19.9). Aconteceu também com os cinco reis que se ajuntaram para guerrear contra Gibeom e Josué (Js 10.1-27), após serem feridos em batalha se escondem numa caverna. 


É inevitável, os momentos que nos fazem querer se esconder acontecerão, e com muito mais frequência do que desejamos, e os motivos serão os mais variáveis possíveis. O grande problema é quando essa caverna se transforma em cova, aconteceu com os cinco reis, não quero aqui discutir o fato de eles merecerem ou não a morte, mas é lastimável quando nosso abrigo seguro se transforma num sepulcro, sepultando nossos sonhos, sepultando nossa esperança.


Mas isso não é motivo para muita preocupação, afinal a caverna pode ser também o lugar de onde ouvimos a voz de Deus, como aconteceu como Elias, ou melhor ainda, como aconteceu com Lazaro, conforme relata o versículo que inicia este texto, a caverna pode ser o lugar de onde se experimenta o sobrenatural de Deus. Pode ser que lá, agente ouça a voz de Cristo nos chamando para uma nova vida. “Lazaro, venha para fora!” Transformando nossa dor em glória. Afinal, se quisermos imitar a Cristo, temos que aprender a sair do sepulcro e continuar nossa caminhada para glória de Deus, que se revela em nossos atos. Quando entro em minhas cavernas, repito as palavras de Davi:


“[Davi, quando fugia de diante de Saul na caverna] Tem misericórdia de mim, ó Deus, tem misericórdia de mim, porque a minha alma confia em ti; e à sombra das tuas asas me abrigo, até que passem as calamidades.” Salmos 57.1


Gustavo C. Martins

Viva a Eternidade...


...vos conduzi pelo deserto; não envelheceram sobre vós as vossas vestes, nem se gastou no vosso pé a sandália." Dt 29.5 

Há quem diga que o deserto é lugar de encontro com Deus. Certa vez me compreenderam mal quando disse que se o deserto é o lugar de encontro com Deus, talvez seja ele uma extensão do céu e por que não pensar que o caminho amarelado do deserto pode ser comparado ao caminho dourado do céu sonhado e esperado por tantos. Temos na verdade, um sério problema com a eternidade, alguns esperam a morte para alcançá-la. Aquilo que é eterno não tem inicio, não tem fim, logo jamais poderemos chegar ao encontro da eternidade, até porque isso será desnecessário, o grande sábio no livro de Eclesiastes explica que “Deus colocou no coração do homem a eternidade”, fomos nós que decidimos viver nossos dias como uma sucessão de tempos, como diria Platão "O tempo é a imagem móvel da eternidade imóvel." 

Mas o que tem isso haver com o versículo acima citado?  O texto do capitulo 29 do livro de Deuteronômio fala sobre os grandes milagres e sinais que Deus operou no meio do povo de Israel, entretanto, ainda assim o povo não consegue o ver, ouvir e nem entender, e após isso cita o verso que inicia esse texto. 

Não são os grandes milagres que nos revelam a presença de Deus. Imaginamos o agir d’Ele, em coisas extraordinárias, e não conseguimos perceber que Deus se revela nas coisas do nosso cotidiano, Ele está presente TODOS os dias, e não somente em alguns eventos isolados. O grande agir sobrenatural de Deus é nos dar recursos para dia após dia continuarmos nossa caminhada. Precisamos abrir nossos olhos, pois se não percebemos, poderemos estar pisando no milagre do pai. Estar vivo é o grande presente de Deus, não espere a morte para viver ao lado d’Ele. Viva a eternidade.

  
Gustavo C. Martins

As Misericóridas do Senhor...


“...pois as suas misericórdias são inesgotáveis. Renovam-se cada manhã; grande é a tua fidelidade!” Lamentações 3 : 22b – 23.

Não foram poucos os dias nos quais acordei com essas palavras ecoando na minha mente. Confesso, por incontáveis vezes esse texto tornou possível minha caminhada. Afinal, pra pessoas que assim como eu que reconhecem nos traços da própria história e nas adversidades do cotidiano a marca do pecado, ouvir repetir-se dia após dia a sentença: “perdoado”, torna muito mais leve as pegadas.

Entretanto hoje eu acordei, não como das outras vezes, acordei “para” o texto citado, e percebi quão egoísta tem se tornada a minha leitura das Escrituras. Havia me esquecido, que se eu quiser realmente ser um pequeno Cristo, devo ler as escrituras na ótica d’Ele, devo ler na perspectiva de que sou chamado a me relacionar com meu próximo. Somente assim, no corredor da vida por onde passa toda a humanidade, poderei deixar de ser uma moldura do quadro que embeleza a imagem ofuscada de um possível Cristo e passar a ser a própria imagem do Cristo que dá sentido e sinaliza a estrada que conduz à vida. 

Sendo assim, a leitura a se fazer do versículo que antecede minhas palavras, é na verdade um convite a ser como o próprio Deus, renovando a cada dia as misericórdias sobre a vida dos que me rodeiam, é tornar inesgotável a capacidade de perdoar, seja à arrogância, ao desprezo, à indiferença, ao desamor, ao ódio ou ao rancor. Por que no final da história, quando conseguirmos assim proceder, as pessoas olharão para nossas vidas, e mesmo sem ler o texto escrito, entenderão o texto vivido, pois as misericórdias do Senhor renovam-se a cada manhã, independente da voz que expressa a sentença.

Gustavo C. Martins


Presidios...


Presidios

Estou sozinho
Fecho a porta dos meus sonhos
Meus pés se atrapalham em escombros
Alcanço os trincos da janela
Os vidros estão em estilhaços
Mesmo assim abro pra sentir teus braços
Tocam-me no sussurrar do vento
É noite fria
E a vida dorme livre lá fora
Como fiquei preso nesta casa?
Como Te engaiolei, e cortei Tuas asas?
Existem vários sozinhos aqui comigo
Ensinaram-me a Te esperar aqui dentro
Enquanto isso Você vive lá fora
Você me disse como Te encontrar
Meus pais me doutrinaram a sentar e esperar
Não existem pobres, doentes, órfãos e viúvas.
Você dorme lá fora.
O frio aqui estremece a alma
Lá fora ele estremece o corpo
 Quem te prendeu do lado de fora?
Roubou as chaves das portas trancadas e levou embora.
Acho que tenho cópias
Mas tenho medo, afinal também é frio lá fora.
Fico aqui confiando na religião,
Ela é minha igreja, meu templo,
Ela é meu conforto, talvez minha condenação...


Gustavo C. Martins

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...

Quem sou eu

Minha foto
Um eterno estudante, eterno amante, do nada e de tudo, por todos e ninguém, sou você com outra roupagem, ou o oposto da sua identidade. @MartinsGust (Twitter)