Amar sem A


Amar sem A


Dias desses percebeu o poeta que o mar era amar sem a.

São borboletas destas que nascem no estomago e desaprendem a voar.


De vez em quando se ajuntam e por impulso se empurram formando ondas que beijam a praia.


Enquanto isso cantam melodias que nos fazem sonhar.


Ah sim, quando as ondas se dobram as borboletas relembram a ferocidade do amor que explode e leva a suas anteninhas.


Que voam, voam longe, tocam o rosto do poeta, maresia.

O poeta recebe um beijo da sua amada, abre os olhos e descobre que o mar é só mar, mas o amor faz poesia em nossos olhos...





Gustavo Martins

E o verbo não se faz carne!


E o verbo não se faz carne!


O cristianismo sem dúvida abarca uma pluralidade incrível de pensamentos, e por isso como diriam alguns teólogos, seria mais prudente dizermos cristianismos. Assumir isso, já é assumir as diferenças, e quem sabe nos tornamos mais tolerantes. Entretanto tonar-se tolerante não nos exime do papel profético de denunciar práticas que promovem a injustiça social e o desamor ao próximo, que creio eu, serem princípios básicos dos cristianismos, herança também das lutas dos profetas no Antigo Testamento.

Todavia parece que o cristianismo se afastou do Cristo, e o logos que gera ação na encarnação voltou a ser apenas verbo, palavra. Digo isso a partir de experiências recentes que podem ser reafirmadas em muitas igrejas.

Tempos atrás precisei levantar recursos financeiros para participar de umas dessas “cruzadas evangelísticas”, tipo dessas em que se apresenta um evangelho instantâneo, “evangelho miojo”, que gera um número de “almas ganhadas” e uma sensação de conquista para os participantes (entendam, pode ser que haja resultados bons nesse processo, mas geralmente damos valor a algo que não deveríamos), mas voltando ao que nos interessa neste momento, consegui rapidamente arrecadar uma boa soma de dinheiro. Recentemente tenho tentado arrecadar recursos para projetos de desenvolvimento comunitário, projetos que se preocupam com a integralidade do ser humano e da comunidade em que ele está inserido, desde seus aspectos físicos até às questões espirituais, parece ser em vão, poucos são os que contribuem e apoiam essa missão.

Tudo isso me faz relembrar a ação de Cristo, do verbo que se fez carne e habitou entre nós, e aqui habitando, promoveu cura, libertação e compartilhou do pão, enfim atendeu às necessidades integrais das pessoas. As pessoas e alguns cristianismos parecem ter subvertido isso, e transformaram o Cristo encarnado em verbo que pode ser conjugado, mas que não promove ação. Se somos chamados a sermos pequenos cristos precisamos que o verbo seja encarnado em nós e que produza os mesmo frutos observados no Cristo. Não podemos apenas falar do verbo, “evangelho verbal”, precisamos ser ação do verbo.

Minha oração é que eu não me preocupe em quantificar meus resultados obtidos para o Reino, entretanto se isso fosse necessário não me preocuparia com a quantidade de almas que eu ganhei, mas na quantidade de pessoas que eu verdadeiramente amei.


Gustavo C. Martins


Reflorescer a Esperança... 



Era sexta-feira da paixão e já se vislumbrava a celebração da páscoa e da libertação através do Cristo. De repente o céu se fez em trevas como na crucificação, as águas do rio fizeram a terra tremer, inundaram as casas trazendo tristeza e dor, fendas se abriram nos corações, fendas que fizeram brotar desespero, desesperança, desânimo e lágrimas.



Dona Neusa, uma senhora de idade avançada, que há poucos meses havia perdido seu marido, pranteava em meio à solidão. A água se foi, deixando nos quintais o cheiro da dor, marcas de sonhos levados, lavados, maltratados, as rosas e lírios banhados murcharam.



Segundo ela, Deus enviou anjos, anjos que nem sabiam que eram. Estes nada tinham a dar, apenas ajudaram a limpar a lama e tentaram reconstruir aquilo que sobrara no jardim do quintal.




O Tempo passou, os jardins renasceram, as flores cresceram, trouxeram o cheiro de esperança e amor. “Onde está Deus no meio do caos?” questionava Dona Neusa, ela mesma responde – “Deus está nas mãos que reconstroem, Ele está no jardim que insiste em viver, Ele é a força que perpassa o caos trazendo a paz”.



Fazer renascer as flores da esperança e exalar o perfume de Cristo no meio do caos, limpar os jardins onde brota a vida, são gestos simples, mas que de alguma forma inexplicável reconstroem os caminhos que conduzem à vida.


Gustavo C. Martins

Lágrimas Desiguais



São lágrimas desiguais, dessas que dão nó, lágrimas de chuva que caem e provocam enchente de dor. Enquanto o povo sofre solitário, os poucos solidários estão desprovidos daquilo que o rio levou. Há no fim do Rio noticias de um povo que celebra feliz, sob um teto guardado, e um assento sagrado sem lágrimas de amor...

São lágrimas desiguais, só caem no começo do rio e não escorrem pelos olhos do Rio que dorme em paz. Lágrimas repetidas por tantas vezes que já nem comovem mais. Lágrimas esquecidas, não ouvidas porque doem demais...

Gustavo C. Martins


obs.: Sobre as enchentes na Região Serrana

Com Calos me Calo...


Com Calos me Calo...


Eu me calo,
Com calos
Falo,
Evangelho sem atalhos
Pra vidas em retalhos,
Levadas na água
Agora lavadas
Em água da vida.
Boas novas
Escritas,
Em suor e tintas,
Vai nascendo vida
em videira,
Vieira.
Longe do templo
“perdendo” meu tempo
Sou só um servente
Aprendiz de carpinteiro
Ex-engenheiro.
Com calos
Eu falo
Pros “santos” me calo...




Gustaco C. Martins

Um abrigo para o Cristo

   Era domingo, uma semana após deslizamentos provocarem várias mortes em Sapucaia/RJ, mais de trezentas pessoas estavam abrigadas numa mesma escola, sem a esperança de poder um dia voltar para casa, desabrigados. Enquanto um grupo se reunia para consolar as vitimas, uma senhora dizia sem nenhum constrangimento: “Minha igreja é grande, se quiséssemos poderíamos fazer um bom trabalho com esta gente, mas não dá, estamos em festa na nossa igreja.” A tal “irmã” pertencia a uma igreja que ficava num bairro próximo.


  Parece repulsivo, desumano, certamente nem um pouco cristão. Entretanto, catástrofe após catástrofe, as igrejas permanecem inertes, “celebrando”, festejando, abrindo as portas domingo após domingo para cultuar a um deus criado, incapaz de transformar suas vidas. Indiferença, insensibilidade.

   Sob os escombros, e os lares levados, sonhos sepultados ao som da comunidade cristã que clama egoistamente pelo cumprimento da “promessa”, pela manifestação do milagre. Se há um motivo pelo qual as vitimas dos desastres continuam desabrigadas, é porque o Cristo não encontrou abrigo nos corações que dizem que O adora.

   Certamente quem não O conhece, não conseguirá enxerga-Lo sob os escombros dos templos. Dar um abrigo para o Cristo, é dar um abrigo para o pobre, para a viúva e para os desabrigados.

“Afasta de mim o estrépito dos teus cânticos; porque não ouvirei as melodias das tuas violas.“ Amós 5:23



Gustavo C. Martins

Somente Ele...



Somente Ele


Acalma minh ‘alma,
Tuas mãos minha cama
Descanso me traz
 
Ameniza minha dor
Tuas lágrimas meu bálsamo
Amor, paz
 
Endireita meus pés
Teus passos sofridos
O caminho se faz
 
Desencobre minha visão
Teus olhos minha luz
Sentido me traz
 
Fortifica meus braços
Tuas mãos pregadas
Sustentam a paz
 
Purifica meu sangue
Tuas veias se abrem
O caminho se faz



Gustavo C. Martins 

Anjos que não vemos...


“E o anjo do SENHOR tornou segunda vez, e o tocou, e disse: Levanta-te e come, porque te será muito longo o caminho.”      1 Reis 19:7

De uma pergunta boba um teólogo sábio ensinou grande lição, perguntaram-lhe se as parábolas que Jesus contava aconteceram ou não, respondeu ele que não era o caso se aconteceram ou não, o fato é que elas acontecem diariamente, só mudam os atores. Dias desses perguntaram-me se eu acreditava em anjos. Lembrei-me do inicio da minha caminhada cristã, quando levado por ilusões emotivas orava a Deus pedindo pra ter a capacidade de ver os anjos, num sei por que cargas d’água desejava tanto isso.

Hoje entendo, e percebo como Deus sempre responde nossas orações, o problema é a nossa incapacidade de contemplar as respostas. Passados dez anos, posso dizer com toda certeza que vejo anjos, não só os vejo, convivo com alguns. Sim, anjos, como os anjos bíblicos, aqueles que sempre traziam uma mensagem que transformava a vida de quem as ouvia, anjos que traziam alimento para sustentar a caminhada, anjos como o André e a Márcia, como o Léo e a Táta, como o Anderson e a Cris, como a Fabiola. “Mensageiros de Deus” (lembro-os de que este é o significado da palavra anjo) que sustentaram meus pés. Sem eles certamente seria impossível minha caminhada. Ah sim, nesse meu caminho surgiram outros anjos que aqui não foram citados, e foram muitos, alguns sem nome.

Já vi e ouvi muita gente tentando descrever os anjos celestiais, besteira, a parte que nos importa no reino de Deus, não é saber como eles são, mas como eles agem, as vezes de forma sobrenatural, outras nem tanto, e tão naturais que são, nem percebemos que podemos vê-los.


Gustavo C. Martins

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Um eterno estudante, eterno amante, do nada e de tudo, por todos e ninguém, sou você com outra roupagem, ou o oposto da sua identidade. @MartinsGust (Twitter)