Coisificação das Pessoas


“Amarás o teu próximo como a ti mesmo.” Mt 22.39

Lembro-me de quando era pequeno, das inúmeras vezes em que tentei consertar meus brinquedos quebrados, meu maior desafio foi um videogame Dactari Dynavision que nem sequer me lembro de ter visto funcionar, quase sempre minhas tentativas terminavam em fracasso. Dai cresci e de fato acabei aprendendo a consertar algumas coisas, mas já não me afeiçoo mais por essa ocupação. Tornei-me cristão, e não sei quando, nem como, mas em algum momento no caminho descobri que as pessoas estão “quebradas”, e me engajei na árdua tarefa de tentar consertá-las.

Ensinaram-me a ter respostas e a determinar perfis que padronizam a espiritualidade de uma pessoa, assim, de acordo com as coisas que as pessoas fazem, ligo meu sensor de pecados, descubro os problemas, e elaboro métodos para consertá-las e deixa-las perfeitas, assim como eu, afinal, não posso consertar alguém se eu estiver quebrado também.

Tudo isso parece muito estranho quando exposto dessa maneira não é?! Mas não é dessa maneira que temos agido ao longo da história? “Coisificando” as pessoas. Em uma recente conversa com um grande amigo, acabei atentando, para o fato de que as inúmeras programações que fazemos em nossas igrejas, simplesmente não surtem na maioria dos casos o efeito desejado, isso porque, nos aproximamos das pessoas para transformá-los naquilo que desejamos, e se assim agimos, não estamos amando de fato quem as pessoas são, amamos aquilo que podemos fazê-la transformar-se, e o pior, amamos a ideia errônea de que somos capazes de transformar as pessoas.

Redescubro então que o evangelho tem um poder incrível de transformar, a mim mesmo, e essa transformação me permite ser aquilo que os outros precisam que eu seja e a amá-la sem esperar que elas sejam perfeitas. O máximo que podemos fazer no sentido transformar alguém pelo nosso esforço é passar um “photoshop”, mas todos nós sabemos que isso só muda as aparências.

Assim meu amor pelo próximo, deixa de ser uma obrigação, e perde qualquer “segunda intenção”, e quem sabe assim, esse evangelho que vive em mim, faça valer as palavras de Cristo, o único ser perfeito, e, portanto único capaz de consertar as pessoas. “Amarás ao teu próximo como a ti mesmo”.


Gustavo C. Martins

Sobre nossos ombros a responsabilidade


“Mas aos coatitas Moisés não deu nada, pois eles deveriam carregar nos ombros os objetos sagrados pelos quais eram responsáveis.” Nm 7.9

Gostaria de passear contigo sobre as ruas abrigadas por desabrigados, caminhando por entre os carros, pois não há espaços nas calçadas onde dormem nossos irmãos. Gostaria que você pudesse ver comigo a miséria e a pobreza que se “avizinha” dos nossos templos e casas. Não, essa não é mais uma mensagem apelativa sobre algum projeto social, mas sim uma mensagem sobre um projeto chamado cristianismo que parece termos esquecido trancafiado em algum baú de memórias.

David Bosch em seu livro “Missão Transformadora” explica de como o cristianismo deixou de ser um movimento e se tornou uma instituição, é verdade que o cristianismo não sobreviveria caso não se institucionalizasse, entretanto o grande golpe foi o mesmo deixar de ser um movimento, como o de Cristo, na busca de um evangelho social, que se preocupava com a libertação completa do povo ao seu redor, como no exemplo dos primeiros cristãos que “viviam” a igualdade social.

“Grandes poderes trazem grandes responsabilidades” já dizia a frase de autoria desconhecida, mas que foi imortalizada por Stan Lee, autor da história Homem-Aranha. Se somos, como a Bíblia descreve, sal da terra e luz do mundo, recai sobre nós grandes responsabilidades, as quais teimamos em menosprezar e escolhemos esquecer das responsabilidades e lembrar apenas das nossas necessidades, é assim que dia após dias nos tornamos tão desumanos.

Com diz o texto citado acima, Deus coloca sobre os nossos ombros aquilo que há de mais sagrado, se em outro tempo a arca representava a habitação de Deus, neste tempo é certo que o homem é a habitação de Deus, afinal o próprio Cristo não nos indica que o encontraríamos na face do necessitado. Deixemos, portanto o conforto dois bois dados por Moisés aos levitas responsáveis por carregar aquilo que era de menos valor, e prossigamos trazendo sobre nossos ombros a responsabilidade de retirar os aflitos jogados ao longo do caminho, e leva-los conosco ao longo da nossa caminhada. Dai você pode escolher, pois no final o que vale é o resultado. Podemos fazer isso como instituição igreja, ou como movimento cristão.



Gustavo C. Martins 

Teologia de Números


“Vindo, porém, uma pobre viúva, deitou duas pequenas moedas, que valiam meio centavo.“ Marcos 12:42

Apesar de minha formação na área de exatas, confesso para vocês que os números são a melhor forma de se enganar alguém. Vejam por exemplo o que acontece quando somos ainda criança. Tenho dois sobrinhos, o mais novo tem seis anos, o mais velho doze, todos os dias ao sair de casa, apesar da tradicional merenda, o menor pede à mãe um dinheirinho pra comprar algum doce. Isso é quase um ritual. Para ele o importante é que ele ganhe a mesma quantidade de moedas que o irmão, ou uma quantidade a mais, mesmo que o valor das mesmas seja menor.  Ainda não aprendeu a “contar” valores.

Desde cedo aprendemos a dar “valor” às quantidades e nos tornamos indisplicentes quanto às qualidades. Bem por isso vemos surgir por ai a teologia da prosperidade, e também uma teologia de números. Você já conhece a teologia da prosperidade, mas a de números nunca ouviu falar. Ela não existe como conceito, mas está pré-conceituada em nosso subconsciente.  A grandeza do número de pessoas que se “convertem” em nossas igrejas, os eventos que lotam os templos, as grandes ofertas estampadas nos painéis. Números e mais números. Estatísticas são imprescindíveis para o marketing, entretanto elas não fazem análise por si só. Segundo o IBGE o número de cristãos no Brasil cresceu, mas a meu ver, o cristianismo no Brasil vai de mal a pior.

E essa megera teologia vai se perpetuando em nosso cotidiano, gastamos inúmeras horas em orações repetitivas, nos debruçamos por longos períodos sobre a Bíblia sem permitir que ela toque nosso coração sequer por um segundo, ficamos horas dentro de quatro paredes em nossos enormes templos e saímos domingo após domingo da mesma forma que entramos. Isso para não citar as outras práticas nas quais depositamos o valor nas quantidades e desprezamos a qualidade do que fazemos.  

O biologista Alex Carrel ganhador do Nobel de Medicina de 1912 certa vez disse: “A qualidade de vida é mais importante do que a própria vida.”  Esta frase pode ter muitos significados, mas o melhor significado possível, é aquele que você pode dar a ela. Assim também o versículo que inicia o texto, ele tem muitos significados, mas certamente o valor dele não está nos números descritos no texto.


Gustavo C. Martins

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