E o verbo não se faz carne!
O cristianismo sem dúvida abarca uma pluralidade incrível de
pensamentos, e por isso como diriam alguns teólogos, seria mais prudente
dizermos cristianismos. Assumir isso, já é assumir as diferenças, e quem sabe
nos tornamos mais tolerantes. Entretanto tonar-se tolerante não nos exime do
papel profético de denunciar práticas que promovem a injustiça social e o desamor
ao próximo, que creio eu, serem princípios básicos dos cristianismos, herança
também das lutas dos profetas no Antigo Testamento.
Todavia parece que o cristianismo se afastou do Cristo, e o
logos que gera ação na encarnação voltou a ser apenas verbo, palavra. Digo isso
a partir de experiências recentes que podem ser reafirmadas em muitas igrejas.
Tempos atrás precisei levantar recursos financeiros para
participar de umas dessas “cruzadas evangelísticas”, tipo dessas em que se
apresenta um evangelho instantâneo, “evangelho miojo”, que gera um número de “almas
ganhadas” e uma sensação de conquista para os participantes (entendam, pode ser
que haja resultados bons nesse processo, mas geralmente damos valor a algo que
não deveríamos), mas voltando ao que nos interessa neste momento, consegui
rapidamente arrecadar uma boa soma de dinheiro. Recentemente tenho tentado
arrecadar recursos para projetos de desenvolvimento comunitário, projetos que
se preocupam com a integralidade do ser humano e da comunidade em que ele está
inserido, desde seus aspectos físicos até às questões espirituais, parece ser
em vão, poucos são os que contribuem e apoiam essa missão.
Tudo isso me faz relembrar a ação de Cristo, do verbo que se
fez carne e habitou entre nós, e aqui habitando, promoveu cura, libertação e compartilhou
do pão, enfim atendeu às necessidades integrais das pessoas. As pessoas e
alguns cristianismos parecem ter subvertido isso, e transformaram o Cristo encarnado
em verbo que pode ser conjugado, mas que não promove ação. Se somos chamados a
sermos pequenos cristos precisamos que o verbo seja encarnado em nós e que
produza os mesmo frutos observados no Cristo. Não podemos apenas falar do
verbo, “evangelho verbal”, precisamos ser ação do verbo.
Minha oração é que eu não me preocupe em quantificar meus
resultados obtidos para o Reino, entretanto se isso fosse necessário não me
preocuparia com a quantidade de almas que eu ganhei, mas na quantidade de
pessoas que eu verdadeiramente amei.